terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

. UM TRIBUTO A CHICO DE AMADEU




Acabava de chegar a Juazeiro do Norte, para cumprir uma agenda de negócios, quando me surpreende uma ligação telefônica. Pensava que fosse uma entre tantas outras que acontecem rotineiramente. Infelizmente não era. Do outro lado da linha, Dr. Hélio Batista dava-me conta do falecimento de Chico de Amadeu.

Confesso que, apesar de conhecer a sua prostração, a notícia me assustou. Permaneci parado por instantes e, no silêncio da minha reflexão, parece que via Chico de Amadeu cantando “Linda Brejeira”. Fui totalmente tomado de emoção. Experimentei um sentimento estranho, que era um misto de ansiedade e tristeza. Suspendi a agenda, retornei ao carro e tomei o rumo de Várzea Alegre.

Precisava estar perto da minha gente para, juntos, reverenciarmos o grande Chico, figura que a história nunca vai esquecer. Precisava estar mais perto de Chico, em manifestação solidária, mesmo sabendo que ele já não me escuta e nem me vê. Queria poder ousar sobre o imaginário para dizer-lhe que os homens inteligentes não podiam morrer.

Entretanto, quem sou eu para me contrapor aos desígnios de Deus? Que seja feita a sua inquestionável vontade.

Chico de Amadeu está partindo, mas atrás dele vai ficando um enorme acervo de coisas que não temos como avaliar. Essas coisas situam-se no plano do coração e da sensibilidade, não podendo se traduzir em moeda. O Chico que eu conheci, pode ter sido uma figura contraditória, às vezes até incompreendida, todavia acabou por se constituir numa pessoa humana verdadeira. Conseguiu capitalizar virtudes que hoje o engrandecem, quando pretendemos julgá-lo.

Chico não foi. Ele é um pedaço vivo da nossa história. Sem ele, com certeza, Várzea Alegre nunca teria sido tão alegre. Ele popularizou a alegria e a levou, com a sua sanfona inseparável, a todos os recantos do Município, através de gerações que se sucederam, desde os anos cinqüenta. Antes das grandes bandas musicais e do complexo apelo comercial que as projeta, existiam verdadeiros artistas. Aqueles que, sozinhos, eram suficientes para motivar o povo. Eles, sim, faziam festa. E Chico sempre foi um daqueles verdadeiros artistas.

Era polivalente. Agradava ao interpretar os imortais baiões de Luiz Gonzaga. Tornava-se inconfundível ao cantar boleros, aqueles que me mexiam com as paixões e atormentavam a alma de todo mundo. Valsas, chorinhos, sambas e até tangos argentinos faziam parte do repertório riquíssimo do nosso pranteado artista que, por tudo isto, foi sempre um ídolo do povo e uma referência para Várzea Alegre.

Quem ama Várzea Alegre, sempre foi buscar em Chico de Amadeu a fonte de inspiração para demonstrar sua paixão pela Terra do Arroz. O varzealegrense ausente, quando queria extravasar o seu sentimento de saudade, mandava buscar Chico. E ele ia, sem encarar as distâncias. E ia, muito mais pelo prazer de rever o conterrâneo saudoso e de proporcionar-lhe um prazer, do que pelo resultado financeiro da empreitada.

Foi assim que percorreu quase o Brasil inteiro e foi assim, também, que fez muito varzealegrense chorar por aí afora.

Tocador urbano e rural, Chico estava presente tanto nos bailes de gala da sociedade quanto nos forrós de pé de serra, entre bêbados ingênuos e valentões armados de peixeira. Sua popularidade sempre o ajudou em todos os vexames, talvez pela sua constante postura de anjo da alegria.

Ao lado do artista, também andava o político. Sua popularidade valeu-lhe dois mandatos de vereador. Não lhe faltou, em nenhum dos mandatos, o comportamento típico do vereador interiorano que, quase sempre, incorpora muito mais o espírito de um assistente social do que a conduta de um parlamentar. Cercado de carentes, e convicto de que não tinha como atenuar-lhes os sofrimentos por falta de recursos, preferiu abandonar a política e dedicar-se ao que sabia fazer muito bem. Abraçou novamente a sanfona, soltou a voz e passou a encantar os seus fãs, enquanto a saúde lhe permitiu.

Hoje, infelizmente, pranteamos a sua morte. Entretanto há um dito popular que ensina: “morre o homem e fica a fama”. E Chico ficará eternamente na galeria dos notáveis. Por tudo isto, é que jamais esqueceremos.

O Chico moleque
O Chico boêmio
O Chico seresteiro
O Chico apaixonado
O Chico sanfoneiro
O Chico vereador
O Chico funcionário
O Chico da família
O Chico de Várzea Alegre
O Chico do povo
Enfim, o nosso Chico de Amadeu.

Tibúrcio Bezerra



Várzea Alegre, aos 17 de fevereiro de 2009.

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