segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Assis Ferreira: foi uma honra conhecê-lo


Inteligente, doido, crítico excessivo, filho amante de sua terra natal. Destaco inicialmente estes adjetivos para qualificar Assis Ferreira. O conheci em 2007. Chamou-me atenção às colocações de um cronista em coluna diária do Jornal Folha da Manhã. Quem é? Indaguei curioso a um interlocutor. “Um doido”, respondeu concedendo o primeiro de uma série de adjetivos depreciativos para Assis. Sua lucidez, contudo, prevalecia nas crônicas. Era impressionante como tratava sobre vários temas ao mesmo tempo.

E foi assim que comecei a ler diariamente as colunas do “doido Assis”. Quanto mais lia, mais notava que para os que não admitem críticas, os que expressam muitas vezes o pensar da maioria da coletividade são loucos. Não lia as crônicas de um doido, mas sim de um lúcido apaixonado por sua terra natal. Um crítico ácido, irônico, mas acima de tudo sincero. Dizer que não cometia exageros não posso, mas não reconhecer como construtivas as suas colocações também não.

Pesquisei sobre Assis e descobri que sempre se portava assim. Não era nada de pessoal contra nenhum prefeito, mas seu estilo e assim questionou e criticou dentre outros Mauro Sampaio, Manoel Salviano, Carlos Cruz, Raimundo Macedo e mais recentemente Santana.

Suas crônicas tinham uma característica formidável porque além de critico era também um evangelizador. Suas citações bíblicas sempre nos conclamavam e induziam a ler as escrituras sagradas. Para mostrar os “novos velhos problemas da cidade” também republicava como cabeça, partes das crônicas de 2, 5, 10 anos atrás. Uma breve lembrança do Assis evangelizador: Quereis ser salvo, leitor? Fazei caridade: perdoai as ofensas; não negueis socorro ao dele necessitado; abrigai a viúva; protegei o órfão; sede paciente com o maçante; ouvi; consolai. Se derdes tudo o que tendes e não fordes caridoso, não vereis nem o azul do céu.

Fã, defensor e devoto do Padre Cícero, na última crônica publicada no Folha da Manhã e aqui no Blog do Juazeiro lembrou nosso patriarca com uma frase que entrou para a história: “Depois da minha morte é que o Juazeiro vai crescer”. Estendeu sua admiração pelo Padre Cícero com a defesa dos romeiros. Na crônica do dia 8, falou sobre o Centenário e disse: “A Romaria das Candeias pareceu-me ainda maior do que a do ano passado. Urge urbanizar a Praça dos Romeiros: caiar os arcos que a delimitam, fazer o piso; iluminar bem. Os vendedores que invadiam a praça não voltam mais a ela, dizem. Ótimo.”

Certa vez me emocionou ao comparar os romeiros com aves de arribaçã: “Já disse em crônicas que os romeiros são avoantes. Aves de arribação voltam ao pombal Juazeiro do Norte para alimentar-se da fé deixada pelo exemplo do Padre Cícero”.

Em suas crônicas sempre evidenciava o amor pela esposa e filhos. Recentemente deixou claro que não era irrequieto como eu o chamada e pensava ser: “Eu sou ansioso: não me dou com pessoas que não cumprem rigorosamente ano, mês, dia, hora e minuto do que foi acertado”. Com os leitores compartilhava suas alegrias e tristezas: “Estou amolecendo: quase chorei na despedida de André. Ele chorou. A mãe chorou”. Essa frase está na crônica de 31 de janeiro quando acompanhou o filho ao “aeroenganoporto” para que este retornasse para São Paulo.

Por que crítico ácido? Essa observação confirma: “Não sei porque os políticos, em geral, não merecem fé, são homens perjuros: prometem dez coisas e negam onze. São jogadores que não têm jogo e apostam tudo e raramente perdem”.

Em 30 de dezembro de 2008 na Rádio Progresso, o entrevistei com Wellington Oliveira e observei estar diante de uma figura radical. Relutou bastante e foi praticamente da marra, mas atendeu. Criticou os políticos de Juazeiro, os profissionais de imprensa que não informam como devia e até a si mesmo. Uma frase de efeito que chamou a minha atenção: “Fazer as crônicas para mim é uma terapia”.

Formado em Direito, Assis Ferreira tinha 71 anos. Era também aposentado do Banco do Brasil e escreveu para o Folha da Manhã e diversos outros jornais de Juazeiro e do Cariri. No Blog do Juazeiro há mais de um ano estava com suas crônicas também sendo publicadas. Mantinha o site www.padrecicero.com. Fez uma seleção dos seus melhores textos e em 1997 lançou o livro Crônicas.

Assis passou mal durante sua viagem para São Paulo sendo atendido em Guarulhos onde ficou hospitalizado por 3 dias após sofrer um infarto e faleceu na tarde deste domingo, ainda na UTI.

Sinceras condolências a toda a família e a sua legião de leitores. Juazeiro está de luto pelo passamento do irrequieto Francisco de Assis Ferreira dos Santos. Com a morte de Assis Ferreira fica uma lacuna para se retratar o Juazeiro atual como apenas ele fazia. Foi uma honra conhecê-lo.

Por Beto Fernandes

http://blogdojuazeiro.blogspot.com

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