domingo, 10 de abril de 2011

CADÊ O SERTÃO?


- Cadê o toucinho daqui?
- O rato comeu.
O sertão era inocente,
bom,
generoso
e gostoso.
Mas sertão deu para peralta,
para play-boy.
Virou menino de rua,
Metido a sebo,
metido a sabido,
metido a sofisticado.
Conheci o sertão de antigamente.
Tudo diferente de hoje.
Agora cheguei e perguntei:
- Cadê o sertão daqui?
- O bicho comeu.
Havia matas fechadas,
caçadas de peba
e histórias de caiporas.
Havia fazendas ricas,
casas de alpendre
e curral de gado.
Havia festas de casamento,
acompanhamento de noivado
e baile à noite inteira,
muita comida
e louvação de violeiros.
Havia moças bonitas e cismadoras
que espiavam os rapazes de longe,
coração apertado de medo
do pai
e da língua das comadres.
Havia queijo,
coalhada,
carne assada no espeto
rede macia no alpendre
e cavalo bom de gado.
Hoje tudo diferente.
- Cadê a mata daqui?
- Agricultor derrubou.
- Cadê agricultor?
- Tá plantando algodão.
- Cadê algodão?
- Caminhão carregou.
- Cadê caminhão?
- O bicho virou.
- Cadê fazenda de gados?
- O banco comeu.
- Cadê festas de casamentos?
- A cidade roubou.
- Cadê moças bonitas?
- A capital carregou.
O sertão está diferente.
Tudo mudado.
A civilização
e o progresso
tiraram a sua inocência,
desnudaram a sua alma
e plantaram nas suas terras
outras sementes,
e plantaram no seu coração
outros sentimentos.
o serão está tão diferente...
- Cadê o sertão daqui?
- O bicho comeu.

Padre Antonio Vieira
escritor varzealegrense

do livro SERTÃO BRABO

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